o que é astrologia?
Para responder a pergunta do que é a astrologia, é preciso fazer uma oferenda na encruzilhada, para situarmos o lugar desta linguagem, sua história, atravessamentos e cosmosensibilidade. Só enxergaremos a sua natureza múltipla, circular e capaz de simultaneidades, situando nosso corpo e oferecendo nossas cabeças no meio desse espaço mágico.
A encruzilhada é uma epistemologia ancestral africana e política, portando um lugar de fazer questionamentos e escolhas. Ideia fixa e perspectivas limitantes são seus inimigos, pois a encruza é um ponto de partida para muitos caminhos e para onde sempre se volta e escolhe um novo caminho. O senhor da encruzilhada é Exu, divindade africana da comunicação, das trocas, inversões e da palavra, no lugar de sua cabeça ele tem uma faca, com a qual corta os problemas ao meio e multiplica as soluções. Que nossas cabeças possam ser facas, que possam ser lugar de solução, mantendo nosso corpo aberto e questionador.
A encruzilhada é uma epistemologia ancestral africana e política, portando um lugar de fazer questionamentos e escolhas. Ideia fixa e perspectivas limitantes são seus inimigos, pois a encruza é um ponto de partida para muitos caminhos e para onde sempre se volta e escolhe um novo caminho. O senhor da encruzilhada é Exu, divindade africana da comunicação, das trocas, inversões e da palavra, no lugar de sua cabeça ele tem uma faca, com a qual corta os problemas ao meio e multiplica as soluções. Que nossas cabeças possam ser facas, que possam ser lugar de solução, mantendo nosso corpo aberto e questionador.
Conta um Itan que, certa feita, cansados de passar fome, os Orixás recorrem a Exu para saber como receber mais sacrifícios. Exu então perambula pela terra em busca de solução. Chegando a casa de Orungan, é aconselhado a recolher dezesseis coquinhos de palmeira. Exu o faz, porém não sabe o que fazer com os coquinhos. Os macacos então o instruem a sair pelas dezesseis regiões do mundo recolhendo em cada uma delas, um oráculo. Depois de obter os oráculos, Exu ensina aos homens como prever o futuro e saber a vontade dos deuses. Para evitar os infortúnios e alcançar a prosperidade, os homens voltam a prestar homenagens e oferendar aos Orixás.
Gosto de pensar que dentre os muitos oráculos que Exu recolheu está a Astrologia. Pois estar no mapa é estar na encruzilhada, estabelecer relações de idas e vindas, para cima e para baixo, para o lado esquerdo e direito, e olhar o mundo de ponta-cabeça e em todas as direções.
Há um termo iorubá “ìpàdé” que significa reunião ou encontro, demonstrando que um dos objetivos principais desse rito complexo integrante da liturgia de candomblé e umbanda, é pedir a Exu que reúna as partes que se acham separadas ou distantes. Se estamos pensando a Astrologia fora do seu imbricamento colonizado, devido a sua origem africana, onde sabemos que nada se pensa ou se acha separado, nada é uma única coisa, o mundo material em que habitamos é interconectado e sustentado pelo mundo invisível. Então a primeira coisa que Exu nos responde sobre o que é a astrologia é que ela é um lugar de unicidade com o universo, de interação simultânea e circulação das muitas dimensões que compõem a existência, todas merecedoras de atenção.
A forma do mapa astral é circular, confirmando que sua natureza é interdisciplinar, que sua essência é movimentar, que sua simbologia é o ovo, a cabaça, o ventre, para que não fique nenhuma dúvida que o conhecimento que dela emerge é em essência anti-fálico. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀
O círculo possui a qualidade de não excluir e suas primeiras características são a integração e a horizontalidade. Tudo aquilo que adentra este espaço lhe compõe. E tudo que compõe um círculo está organizado em roda, de modo que cada elemento, casa, signo ou planeta se relacione com o outro, complementando-o. Talvez por isso a Astrologia não seja aceita na Academia, seja frequentemente desvalorizada como uma curiosidade ou misticismo, pois diferentemente daquilo que somos forçados a compreender como sinônimo de racionalidade, lógica ou conhecimento válido, essa linguagem não separa nenhum dos seus conteúdos, sua riqueza está na capacidade de construir pontes, ligar esferas da existência e reunir múltiplas subjetividades. Então ela está desautorizando o caminho único, e afirmando que o conhecimento produzido pelo corpo, seja celeste ou terrestre a academia e o sistema não alcança, não dá conta. Hoje ela acontece num lugar muito específico e problemático, extremamente elitizada, atendendo a um determinado público, com seu acesso limitado e sendo repassada sem um base histórica como se tivesse surgido do nada. A maneira que encontrei para descolonizar o meu olhar e me desconstruir através desse conhecimento da astrologia foi embarcar numa pesquisa histórica, filosófica e sociológica que acabou por despertar mais perguntas do que respostas: por exemplo de onde esse conhecimento está vindo, que identidades ele vem produzindo? Porque a mitologia greco-romana é a única possível? Quem está dizendo essas coisas, partindo de onde? Que conhecimento é esse, por que ele é universal?
Simplesmente dizer que a astrologia não é europeia não faz dela universal, porque continua ocultando sua localização geopolítica, e continua reproduzindo esse modelo europeu sem nenhuma reflexão ou engajamento crítico. Enxerguei aí uma lacuna que precisava, antes de ser preenchida, ser respondida. A linguagem que venho desenvolvendo com a Astrologia e irei iniciar em vocês busca reabrir passagens e dialogar com valores e conceitos presentes nas cosmovisões das culturas do Sul, isto é, aquelas que se alicerçam em outros valores e fatores culturais não reconhecidos pelo Norte global. Essa pesquisa surgiu à partir da identificação de avizinhamentos desses saberes milenares e da possibilidade de troca entre linguagens, produzindo conhecimento novo, desobediente e que conta outras histórias, perspectivas e identidades desde dentro do círculo.
A poeta, ensaísta, feminista interseccional e ativista, Audre Lorde, que costumava se definir como “negra, lésbica, mãe, guerreira, poeta”, escreveu certa vez um ensaio chamado “The Master´s tools will never dismantle the master´s house. Algo como as ferramentas do senhor nunca irão desmantelar a casa do senhor. Se a luta por emancipação e transgressão da colonialidade ocorre de maneira racista, sexista, cartesiana, ecologicida, reproduzindo todas as lógicas civilizatórias da modernidade termina por corromper a própria luta e seu objetivo. Só chegaremos a uma emancipação desconstruindo a casa, mas precisamos de outras ferramentas eis o porque da oferenda a Exu.
A astrologia é ferramenta de reconexão com o eu-primordial, com a ancestralidade, com a natureza. É um oráculo divinatório. Divinar, segundo a Iyalorixá Mãe Stella de Oxossi que foi matriarca do Ile Axé Opo Afonjá: “é entrar em comunicação com o sagrado, através de rituais guiados por sacerdotes. É claro que todo ser vivo, por possuir uma parcela divina, é capaz de se conectar com os deuses. Mas a utilização de oráculos, os quais fornecem informações sobre o destino da comunidade e das pessoas, requer uma preparação especial e um estilo de vida que propicia a intuição, inerente a todos, para apresentar-se de uma maneira muito mais profunda. O mapa astral não é adivinhação, não é para impressionar ninguém, mas orientar nesse processo de saber-se, alcançar um bom destino e harmonizar-se com suas múltiplas pessoas. Seu sistema é filosófico, espiritual e matemático, é feita a leitura a partir das posições planetárias, signos nas casas e aspectos, interconexões entre aqueles elementos que compõe a sua roda. Utilizamos a mitologia e histórias para auxiliar na jornada do olhar para dentro de si e obter uma compreensão dos enredos trazidos que vai além da superfície, ao fim e ao cabo, entrar no mapa é entrar na água, elemento fertilizador, cicatrizador e gerador de sentido. Mais importante do que a sua prática é o entendimento de que ela só sobreviveu porque é uma linguagem inacabada, e que nós enquanto interlocutores podemos, reverentes a sua tradição, modificá-la ou prepará-la para novos ciclos.
Gosto de pensar que dentre os muitos oráculos que Exu recolheu está a Astrologia. Pois estar no mapa é estar na encruzilhada, estabelecer relações de idas e vindas, para cima e para baixo, para o lado esquerdo e direito, e olhar o mundo de ponta-cabeça e em todas as direções.
Há um termo iorubá “ìpàdé” que significa reunião ou encontro, demonstrando que um dos objetivos principais desse rito complexo integrante da liturgia de candomblé e umbanda, é pedir a Exu que reúna as partes que se acham separadas ou distantes. Se estamos pensando a Astrologia fora do seu imbricamento colonizado, devido a sua origem africana, onde sabemos que nada se pensa ou se acha separado, nada é uma única coisa, o mundo material em que habitamos é interconectado e sustentado pelo mundo invisível. Então a primeira coisa que Exu nos responde sobre o que é a astrologia é que ela é um lugar de unicidade com o universo, de interação simultânea e circulação das muitas dimensões que compõem a existência, todas merecedoras de atenção.
A forma do mapa astral é circular, confirmando que sua natureza é interdisciplinar, que sua essência é movimentar, que sua simbologia é o ovo, a cabaça, o ventre, para que não fique nenhuma dúvida que o conhecimento que dela emerge é em essência anti-fálico. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀
O círculo possui a qualidade de não excluir e suas primeiras características são a integração e a horizontalidade. Tudo aquilo que adentra este espaço lhe compõe. E tudo que compõe um círculo está organizado em roda, de modo que cada elemento, casa, signo ou planeta se relacione com o outro, complementando-o. Talvez por isso a Astrologia não seja aceita na Academia, seja frequentemente desvalorizada como uma curiosidade ou misticismo, pois diferentemente daquilo que somos forçados a compreender como sinônimo de racionalidade, lógica ou conhecimento válido, essa linguagem não separa nenhum dos seus conteúdos, sua riqueza está na capacidade de construir pontes, ligar esferas da existência e reunir múltiplas subjetividades. Então ela está desautorizando o caminho único, e afirmando que o conhecimento produzido pelo corpo, seja celeste ou terrestre a academia e o sistema não alcança, não dá conta. Hoje ela acontece num lugar muito específico e problemático, extremamente elitizada, atendendo a um determinado público, com seu acesso limitado e sendo repassada sem um base histórica como se tivesse surgido do nada. A maneira que encontrei para descolonizar o meu olhar e me desconstruir através desse conhecimento da astrologia foi embarcar numa pesquisa histórica, filosófica e sociológica que acabou por despertar mais perguntas do que respostas: por exemplo de onde esse conhecimento está vindo, que identidades ele vem produzindo? Porque a mitologia greco-romana é a única possível? Quem está dizendo essas coisas, partindo de onde? Que conhecimento é esse, por que ele é universal?
Simplesmente dizer que a astrologia não é europeia não faz dela universal, porque continua ocultando sua localização geopolítica, e continua reproduzindo esse modelo europeu sem nenhuma reflexão ou engajamento crítico. Enxerguei aí uma lacuna que precisava, antes de ser preenchida, ser respondida. A linguagem que venho desenvolvendo com a Astrologia e irei iniciar em vocês busca reabrir passagens e dialogar com valores e conceitos presentes nas cosmovisões das culturas do Sul, isto é, aquelas que se alicerçam em outros valores e fatores culturais não reconhecidos pelo Norte global. Essa pesquisa surgiu à partir da identificação de avizinhamentos desses saberes milenares e da possibilidade de troca entre linguagens, produzindo conhecimento novo, desobediente e que conta outras histórias, perspectivas e identidades desde dentro do círculo.
A poeta, ensaísta, feminista interseccional e ativista, Audre Lorde, que costumava se definir como “negra, lésbica, mãe, guerreira, poeta”, escreveu certa vez um ensaio chamado “The Master´s tools will never dismantle the master´s house. Algo como as ferramentas do senhor nunca irão desmantelar a casa do senhor. Se a luta por emancipação e transgressão da colonialidade ocorre de maneira racista, sexista, cartesiana, ecologicida, reproduzindo todas as lógicas civilizatórias da modernidade termina por corromper a própria luta e seu objetivo. Só chegaremos a uma emancipação desconstruindo a casa, mas precisamos de outras ferramentas eis o porque da oferenda a Exu.
A astrologia é ferramenta de reconexão com o eu-primordial, com a ancestralidade, com a natureza. É um oráculo divinatório. Divinar, segundo a Iyalorixá Mãe Stella de Oxossi que foi matriarca do Ile Axé Opo Afonjá: “é entrar em comunicação com o sagrado, através de rituais guiados por sacerdotes. É claro que todo ser vivo, por possuir uma parcela divina, é capaz de se conectar com os deuses. Mas a utilização de oráculos, os quais fornecem informações sobre o destino da comunidade e das pessoas, requer uma preparação especial e um estilo de vida que propicia a intuição, inerente a todos, para apresentar-se de uma maneira muito mais profunda. O mapa astral não é adivinhação, não é para impressionar ninguém, mas orientar nesse processo de saber-se, alcançar um bom destino e harmonizar-se com suas múltiplas pessoas. Seu sistema é filosófico, espiritual e matemático, é feita a leitura a partir das posições planetárias, signos nas casas e aspectos, interconexões entre aqueles elementos que compõe a sua roda. Utilizamos a mitologia e histórias para auxiliar na jornada do olhar para dentro de si e obter uma compreensão dos enredos trazidos que vai além da superfície, ao fim e ao cabo, entrar no mapa é entrar na água, elemento fertilizador, cicatrizador e gerador de sentido. Mais importante do que a sua prática é o entendimento de que ela só sobreviveu porque é uma linguagem inacabada, e que nós enquanto interlocutores podemos, reverentes a sua tradição, modificá-la ou prepará-la para novos ciclos.