A astrologia primordial nos fala a partir de sua cosmosensibilidade sobre como podemos realizar um compromisso com o nosso destino: O compromisso com a terra e sua dimensão ancestral, do equilíbrio do corpo e da sustentação através da alimentação coletiva. Com a água e a dimensão da memória, cura e espiritualidade. Com o ar e a dimensão aquilombada e circular da feitura e troca de conhecimento. Com o fogo e a dimensão da criação, das transformações coletivas, avanços.
A relação entre nós, o nosso mapa e a nossa chegada a terra está no plano cosmológico, que inclui todos aqueles que vieram antes de nós, o cosmos criador e a natureza. Como diz o Professor Luís Tomás Domingos é como a ligação entre uma criança e seus genitores biológicos. A cultura africana nos ajuda a conceber e viver as relações do ser humano com a natureza, ancestrais e mundo espiritual para que não sejam puramente relações técnicas, mas de reciprocidade, participação e complementaridade. Esta é a desobediência e desvio que venho propondo e pensando a partir do meu letramento racial, para enxergarmos e tensionarmos as redefinições que o pensamento branco euroreferenciado trouxe para este oráculo. A branquitude quer “ter” signos numa relação utilitária, situacional e individualista, não quer Ser o signo e compromissar-se com suas dimensões. Como é para alguns brancos a relação provisória e apropriativa (sempre enviesada pelo racismo e violência) da indumentária afroreligiosa e seus símbolos. É fetiche epistemicida omitir as relações cruzadas do capitalismo/racismo/patriarcado nas transformações de elementos culturais em mercadoria e na conversão de relações de reciprocidade e cooperação em extorsão. Astrologia é mais que um oráculo, é uma tecnologia filosófica milenar que se faz no pacto não com estrelas e planetas, mas com nós mesmos, e quando digo nós, incluo as avenidas da família-ancestralidade, comunidade, espiritualidade e o Ayê-terra, que antes de ser o espaço no qual nos situamos, é uma entidade espiritual. Vocês têm sido capazes de assumir um compromisso com essa potência cosmológica e desviar de uma relação utilitária?
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AutorFelipe Zúñiga: Histórico
November 2022
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